Campo Esquerdo é uma plataforma cultural que fomenta novas estéticas, modos de produção e experiências nos campos da arte sonora, musical e do corpo. Ao desenhar estruturas que permitam co-criação a partir de perspectivas humanas, técnicas e de outros seres vivos, sem hierarquias, Campo Esquerdo promove "tecnologias", no plural. Dicotomias como arte/tecnologia, show/festa, dança/inércia, coletividade/individualidade não têm lugar aqui, exceto se desmontadas e recombinadas em configurações irreconhecíveis. O prefixo musical left-field literalmente, e como sátira, Campo Esquerdo, indica variantes expandidas, singulares, ou "edgy", de um certo gênero musical. E indo um pouco além na interpretação, não é exatamente o fazer experimental, que hoje muitas vezes existe em categorias demasiadamente solidificadas para justificar o uso do termo. O "Campo Esquerdo" é, simplesmente, o abraço à estranheza. Pode ser música/performance esquisita, que toma essa característica apenas por ser quem somos, em nossas inconformidades; ou o fazer artístico que deseja construir um mundo xenomorfo, com as regras que corpos dissidentes, mentes divergentes, possam existir sem a opressão da norma. Ou ainda, a curiosidade científica de observar o que acontece quando há permutações de tecnologias ainda não experimentadas. Campo esquerdo não é um evento de música experimental, é uma frente cultural que promove novos formatos sonoros, e propõe outros parâmetros para relações imanentes nas experiências multidisciplinares.
Práxis Em sua concepção inicial, Campo Esquerdo tomou a forma de um evento que combina múltiplos elementos da cultura da música eletrônica: suspensões espaço-temporais através de tensionamentos do gênero club/rave construções musicais contínuas em um espaço de suspensão do tempo, e de livre movimento (club/rave); música ambiente e escuta profunda, mimetizando a proposta espaços de escuta hi-fi; e, sobretudo, da música experimental, onde sons, silêncio e acaso se encontram para desafiar as tradições musicais convencionais, e abre novas possibilidades de composição musical. A partir desses parâmetros, manifesta-se um espaço efêmero de escuta ininterrupta focado em shows de música eletrônica left-field e performances na interseção entre corpo, tecnologia digital e som. Entre as apresentações, houve momentos de mediação e DJ sets como colagens sonoras, evitando quebras não intencionais ou mudanças bruscas de atmosfera. A mediação existe como elemento fundamental da experiência, pois acreditamos que a cultura DJ (e a pessoa DJ) em suas origens, é capaz de criar sentido entre distintas estéticas e grupos sociais, permitindo que seja criado tanto um ambiente conciso, fluido, como um solo para que as artistas autorais se sintam confortáveis em ousar ao máximo em suas apresentações. O formato de experiência de escuta dá o conjunto de valores do projeto, mas não é um fim em si próprio. Nos meses após a primeira edição, surgiram questões críticas como: como dar continuidade a essas experiências de forma alinhada a esses valores? Público, gratuito, horizontal, inovador, dissidente, estranho. Quais são as condições dignas para alcançar um estado de fluxo coletivo, capaz de transformar o projeto conforme as necessidades do que o compõe? Como uma tentativa de respondê-las, Campo Esquerdo toma uma nova forma. O que chamamos de Campo Esquerdo Fase II.